Por
que o Deus de Abraão, Isaque e Jacó deixou o jovem José ir justamente
para o Egito? Por que Jacó e sua família, inicialmente com 70 pessoas,
teve de se dirigir para lá (Êx 1.1-5), estabelecendo-se no Egito e
tornando-se ali um grande povo (Êx 12.37) antes que o Senhor os
conduzisse de volta à Terra Prometida?
Existem
diversas razões, e uma delas parece ser que o Deus da vida confrontou
os deuses da morte. Um povo que representava o Deus vivo foi enviado a
um povo que, naquela época, representava a morte como nenhum outro, que
era literalmente dominado pela morte. Nesse encontro e nessa
confrontação entre o povo de Israel e os egípcios já encontramos uma
indicação antecipada do Evangelho e do envio de Jesus a este mundo de
morte.
O
Egito era a corporificação do culto à morte. Nesse povo, tudo era
voltado para a morte. Ainda hoje, as grandes pirâmides, gigantescas
sepulturas, são testemunhos da morte todo-poderosa. O enorme rosto de
pedra da Esfinge de Gizé olha há 4.500 anos na direção do sol nascente,
expressando o anseio por ressurreição e vida após a morte. Os tesouros
dos túmulos, a arte de embalsamar os mortos, os templos e os símbolos
consagrados à morte, as inscrições nas paredes dos santuários, os livros
dos mortos com histórias acerca da viagem dos falecidos ou os 2.000
deuses egípcios manifestam esse anseio. Um dos deuses principais era Ra,
o deus do sol. Todos os dias Ra passava pelo céu em seu barco solar,
indo da terra dos vivos no Oriente à terra dos mortos no Ocidente. Por
essa razão, a maior parte dos sepulcros se encontram na margem ocidental
do Nilo. Osíris era o deus da morte e o senhor do reino da morte. Antes
que os mortos entrassem no reino de Osíris, tinham de passar por um
teste. Seus corações eram pesados em uma balança, sendo comparados com o
peso de uma pena. Se o coração fosse mais pesado que a pena, a alma era
tragada. Boas obras e rituais feitos em vida deveriam impedir isso. A
caminho do além havia muitos perigos à espreita, por exemplo, monstros
ameaçadores. Para chegar em segurança ao reino dos mortos, alguns
rituais tinham de ser executados. Se um ritual deixasse de ser feito ou
não era executado com perfeição, a alma era condenada às trevas eternas.
Os
antigos egípcios acreditavam numa vida após a morte, por isso seus
sepulcros eram equipados com camas, jogos, cosméticos e até alimentos.
Muitos faraós foram enterrados juntamente com seus barcos, para que
pudessem acompanhar Ra em sua viagem diária pelo firmamento. Na
preparação dos cadáveres para a conservação, os órgãos eram retirados e
depositados em recipientes especiais. Os sacerdotes abriam a boca da
múmia para garantir que o morto conseguisse respirar, falar e comer no
além. O coração era considerado a sede da alma, por isso era deixado no
corpo. Os antigos egípcios penduravam amuletos, muitas vezes dúzias
deles, nas múmias. Eram talismãs, por exemplo, o “olho de Horus”, para
dar sorte e protegê-los. Pesquisadores encontraram tiras de linho,
enroladas em uma múmia, que somavam 4,8 quilômetros de comprimento.
O
reinado de Satanás sobre o mundo tem ocorrido de forma invisível,
incentivando o surgimento de cosmovisões e filosofias contrárias à
verdadeira realidade.
O
Egito era o potência mundial da sua época e representava toda a
situação do mundo de então, um mundo cativado pela morte, que ansiava
por vida eterna e fazia infinitas tentativas de driblar a morte e ganhar
a vida.
O
Deus da vida, que se apresentou a Moisés como o Deus dos vivos (compare
Êx 3.6 e Mc 12.26-27), fez ir ao Egito, ao “vale da morte”, o povo que
Ele escolhera e chamara, através do qual viria a nascer o Salvador,
Jesus Cristo. A vida de José já lança uma luz profética sobre Jesus
Cristo. E Moisés, o Libertador, também é uma figura do Messias. As
palavras de vida que foram proclamadas lá no Egito, o Cordeiro Pascal
que foi imolado pela primeira vez no Egito, a formação de um povo que
traria o Messias ao mundo – tudo isso foi uma antecipação do Evangelho,
uma indicação evidente das intenções salvadoras de Deus para com o
mundo. Mais tarde, quando Jesus nasceu, para cumprir a profecia, Ele
teve de ir ao Egito (Mt 2.13-15). Ele, que é o Pão da Vida, que pode dar
a vida eterna, chegou a uma terra visivelmente caracterizada pela
morte.
Se
Jesus, que veio ao mundo como judeu em Israel, ali morreu na cruz do
Calvário e ali ressuscitou dentre os mortos, se esse Senhor da vida
passou algum tempo no Egito, isso enfatiza qual era a finalidade da
existência de Israel, qual era e continua sendo sua vocação e seu
destino. Isso também explica a história de amor entre Deus e este mundo.
Deus enviou vida a um mundo dominado pela morte e abriu a porta da vida
eterna pelo Seu Filho.
“Em
verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele
que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte
para a vida. Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora e já
chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a
ouvirem viverão. Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também
concedeu ao Filho ter vida em si mesmo” (Jo 5.24-26).
O
antigo Egito era dominado por incontáveis rituais ocultistas, por
preceitos e obras que precisavam ser cumpridos minuciosamente para
alcançar a vida. Mas, mesmo assim, tudo isso era apenas logro e engano. O
que restava era só um débil raio de esperança, mas principalmente o
medo constante de ter negligenciado algo importante ou de ter deixado de
fazer alguma coisa decisiva para entrar na vida eterna após a morte. A
esse mundo marcado por tão fortes tentativas de auto-salvação, Deus
enviou Seu Filho, que escancarou para nós a porta da vida eterna, e
agora é preciso apenas entrar por ela. Jesus, o Salvador, consumou tudo
para nós. Nenhum ritual, nenhum costume ou culto, nenhuma regra ou rito
podem nos trazer a vida eterna. A porta foi aberta por Jesus. É preciso,
apenas, entrar por ela para sair de um mundo dominado pelo pecado e
pela morte e para entrar no paraíso do perdão e da certeza da vida
eterna. Mas como se sai do “Egito da morte” para entrar na “Terra
Prometida”? Somente pela fé!
O
antigo Egito era dominado por incontáveis rituais ocultistas, por
preceitos e obras que precisavam ser cumpridos minuciosamente para
alcançar a vida. Foto: múmia egípcia.
Na Carta aos Hebreus está escrito: “Pela
fé, Moisés, quando já homem feito, recusou ser chamado filho da filha
de Faraó, preferindo ser maltratado junto com o povo de Deus a usufruir
prazeres transitórios do pecado; porquanto considerou o opróbrio de
Cristo por maiores riquezas do que os tesouros do Egito, porque
contemplava o galardão. Pela fé, ele abandonou o Egito, não ficando
amedrontado com a cólera do rei; antes, permaneceu firme como quem vê
aquele que é invisível. Pela fé, celebrou a Páscoa e o derramamento do
sangue, para que o exterminador não tocasse nos primogênitos dos
israelitas. Pela fé, atravessaram o mar Vermelho como por terra seca;
tentando-o os egípcios, foram tragados de todo” (Hb 11.24-29).
Esse texto bíblico nos explica quatro passos de uma só fé:
1. A decisão, pela fé, de não ser mais filho do mundo – assim como Moisés não queria mais ser filho de Faraó.
2.
O passo de fé de largar a velha vida, o que é uma prova de verdadeira
mudança (arrependimento) – assim como Moisés literalmente deixou o
Egito.
3.
Voltar-se pela fé para Jesus Cristo, que é o Cordeiro de Deus, para
receber o perdão pelo Seu sangue – assim como Moisés celebrou a Páscoa
no Egito.
4.
A obediência de seguir adiante com Jesus pela fé – assim como Moisés
atravessou o mar Vermelho com o povo seguindo a Deus. (Norbert Lieth - http://www.chamada.com.br)